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Como Imagino O Municipal Amanhã (João do Rio)


O povo paulista inaugura amanhã o seu grande teatro . Os teatros , que ao mesmo tempo sejam grandes e admiráveis , não são muito abundantes no mundo. Ao contrário. Contam-se a dedo, e os que , às vezes , têm uma enorme fama de arte e de tradição , como o Covent Garden e o San Carlos de Nápoles , são coisas apenas dignas de um piedoso respeito  ao passado . São Paulo é orgulhoso. Orgulhoso excessivamente. Esse orgulho fundamental na raça lhe tem servido de muito : deu-lhe a convicção da própria força , a consciência da personalidade e a consciência geográfica , o que vem a ser a posse de si mesmo e a posse do terreno onde pisa; faz-lhe no Brasil, enfim , a característica de um país verdadeiramente constituído de um povo de verdade, quando nós somos, de fato, uma mistura de várias raças caindo muito por caldear... Por isso São Paulo é bem o Civilizador.  É o Civilizador historicamente. O paulista bandeirante  ensinou a desbravar
 o sertão e mostrou o caminho da riqueza e descobriu , através das florestas , os diamantes de Minas e as esmeraldas do Peru. O paulista estadista ensinou o Brasil a ler , foi José Bonifácio. O paulista agricultor realizou a corrente imigratório, muito antes da abolição . O paulista livre pensador fez a propaganda republica . E eu estou que , realizando a riqueza econômica , tendo por base a agricultura , resolvendo todos os problemas sociais muito antes da União , o paulista foi também do nosso país o primeiro que viajou e , consequentemente , o que ensinou o caminho da Europa ao brasileiro , pouco andarilho outrora. Daí vem, esse justo orgulho. Fale-se de instrução ou fala-se de higiene, fale-se de polícia ou de proteção agrícola - eles dão o exemplo. Mais do o contato da Civilização - um instinto verdadeiramente espantoso fê-lo saber sentir a arte, o imprevisto, o novo e o belo.  [...] Há oito dias só ouço falar no Municipal , nos gastos que o Municipal motiva , no que será a noite de amanhã, enquanto o povo , aquele que certamente não comparecerá senão da rua , para e admira o belo monumento [...]. Com certa facilidade é possível imaginar-se o que será a noite de gala, a maravilha dos vestuários , o ambiente de beleza e de luxo, entre tecidos caros e joias finas , entre lhamas de ouro e colos cujo encanto se aviva nos tríplices fios de pérolas vivas em chamas de diamante e esmeraldas . [...] Sã Paulo era há trinta anos uma cidade colonial. Mas , como a Veneza dos Doges teve os seus arquitetos [...], São Paulo teve a sorte de sentir no seu meio o homem tríplice que forma o arquiteto : o cientista , o trabalhador e o artista. Esse homem é Ramos de Azevedo. [...] A vida seria uma coluna sem capitel se não fosse a criação artística , que é o fim de todas as almas sensíveis e de todos os cérebros com ideias. São Paulo sabe bem reconhecer os valores individuais. É por isso que eu imagino a noite de amanhã , no Municipal , ao fim do último acorde do hino, como a própria apoteose de apoteose de São Paulo ao seu ilustre filho, ao grande arquiteto Ramos de Azevedo.

In: Nelson Schapochnik (ORG.), Pauliceia - João do Rio : um dândi na Cafelândia . São Paulo: Boitempo , 2004. P. 37-9.